sábado, 22 de outubro de 2011

Entre Números e Sonhos



Há um tempo que passa e, esse conta-se em números – é a juventude do corpo, que tem pressa porque vive aprisionado na ilusão dos dias...  Há outro que também passa, mas esse conta-se em sonhos - é a maturidade da alma!  É quando a bênção da idade madura põe fim à ansiedade, à urgência e nos liberta da censura e da escravidão dos números, fazendo-nos menos exigentes, mais reflexivos, pacientes,  sábios e sonhadores.

Hoje, enquanto a passagem dos anos faz marcas em meu corpo e acrescenta-lhe um algarismo, desejo, razão e sensibilidade juntam-se harmoniosamente, para que a minha alma engatinhe no mundo livre dos sonhos.  Nessa hora, eu faço um brinde à sua independência e  vontade de ser feliz: sem amarras!

O meu olhar, a partir desse momento, passeia pelos dias absorvendo tudo ao redor. Nada escapa a minha retina... O brilho das estrelas não é apenas luminosidade, é festa para os meus olhos e o clic da máquina fotográfica não capta apenas o instante, ele registra a eternidade para a qual eu estou prestes a dar as minhas despedidas.  Então, tudo passa a ter um sentido e um peso diferente.  Aí, eu penso na minha juventude e relembro.

- No meu passado, tudo era motivo de frustração: fiquei infeliz porque perdi uma viagem, um emprego, um “grande amor”; fiquei triste porque rompi com o meu melhor amigo, mudei de endereço, de planos; e, entre outras coisas, fiquei depressivo porque não suportei o peso do adeus definitivo, o ser diferente e não saber partilhar a minha solidão. Orgulho, vaidade, soberba e poder foram heranças da minha juventude. E, agora, razão e sensibilidade são testemunhas da minha melhor idade.

Pouco importa, atualmente, se o vizinho tem uma casa, um carro ou um emprego melhor que o meu. Se a fibra do meu cabelo, a cor da minha pele ou a minha orientação sexual fizer a festa para os desocupados de plantão. Nem se deixo de sair nas colunas dos dez mais – ricos e famosos – tampouco se o meu português ruim impedir-me de sentar à mesa do chá das cinco...

Rótulos e etiquetas!?  Estou dispensando, hoje, em nome da liberdade de ser feliz comigo mesma, pois tenho, dentro dessa alma que engatinha, – apesar dos anos - um manancial de amor, ternura e carinho que não envelhecem, nem se contam pelo uso.

Por isso, enquanto a minha alma caminha por entre números, eu festejo a sua maturidade brindando à vida, aos sonhos, ao fim das urgências e ao tempo que passa trazendo leveza, quietude, mansidão e sabedoria.

7 comentários :

  1. Julieta
    Você tem o condão de nos deixar a pensar e a reflectir de uma forma simples e clara.
    Este texto vem da sua alma, não foi escrito ao acaso, ele é sentido e pleno de verdades incontornáveis, de uma pessoa para quem a idade, o estatuto social, ou a riqueza material não fazem mais sentido.
    Aqui há sabedoria,o nosso aspecto físico pode acusar a passagem do tempo, mas à medida que isso acontece seu coração vai rejuvenescendo, e transformando-a numa pessoa que está de bem com a vida e tenta aceitá-la de uma forma equilibrada.
    Continue assim, a ser uma pessoa bonita por dentro e por fora.
    Beijinhos
    Manu

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  2. Julieta, enquanto passeei por tuas palavras só consegui me lembrar de Clarice, que diz:
    ‎"Mas eu acho que se devia contar os anos pela alma. A gente dizia: aquele cara morreu com vinte anos de alma. E o cara tinha morrido, mas era com setenta anos de corpo".


    Concordo com a moça aí em cima, quando ela fala que você nos faz pensar e refletir de uma forma simples e clara. Digo, ainda, que, dentro da sua simplicidade, você consegue ser extraordinária.
    E desejo que você continue a escrever desse jeito lindo para que possa evocar coisas mais lindas ainda em quem tiver o privilégio de lê-la.

    Um beijo de quem a admira.

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  3. Ah, Julieta, você nem imagina o quanto é bom vir aqui dar uma refletidas tão proficuas! O Drummond disse certa vez que há pessoas que passam por nossas vidas sem sequer saber o bem que fizeram. Então eu quero que saiba desde já o bem que me faz com suas maduras, sensatas e apropriadíssimas reflexões. Um abraço, paz e bem.

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  4. E como o tempo ensina... e a vida cobra isso da gente... temos que aprender a tirar lições dos dias tristes... das dores e das experiências de pessoas mais maduras!!!
    Adoro as nossas conversas Dona Ju... sempre aprendo mais!!!

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  5. Oi Julieta
    Seu texto além de profundo e lindo me dá a impressão de mais um aniversário.Que é como esses números que nos acompanham são chamados.
    Os sonhos desde que começamos a entender que o mundo é feito de coisas de ter e ter ajuda-nos e ilude-nos o tempo todo.
    Que lindo quando percebemos que nada incomoda tanto como antes, que os sonhos persistem no entanto são mais caros que qualquer automóvel que nao conseguimos comprar, são sim como dizes "mananciais de amor" que a cada aniversário surpreende-nos enchendo nossa alma de uma felicidade simples, de uma liberdade jamis tida antes.
    Um abraço grande nessa menina adorável e sendo aniversário receba meu carinho em dobro.
    Que traga-me sempre suas anotações de sonhos porque me ajuda a crescer em sabedoria, enquanto os números passam.
    fique bem
    meus beijinhos

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  6. Julieta,

    Vi o nome de teu blog:Cartas de Julieta,no cantinho do Cacá,amigo que prezo muito...teu comentário,muito inspirado e pertinente,me encantou e vim te visitar,pelos dois motivos,sendo que Cartas,filme que amo,me chamou para cá.
    E me encantei pelo teu blog,por teus escritos e pronto,estou te (per)seguindo para sempre.
    Bjssss,
    Leninha

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  7. Gostei da desenvoltura, da lucidez, da perspicácia...
    Procurei a lista de seguidores mas não encontrei. Opção sua?

    Bj

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