quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Despedida


A partir de hoje encerro o blog Cartas de Julieta e volto a escrever em Reconstruindo Caminhos, cujo endereço é  www.brincarcomaspalavras.blogspot.com

Essa é uma homenagem que faço ao meu amigo Rolando Palma que, em vida, me presenteou com o Layout do referido blog. Obrigada a cada um de vocês por seu olhar generoso e palavras de carinho. Espero encontrá-los em minha antiga “casa”.

Feliz Natal e um Ano Novo pleno de boas energias.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Memórias do Olhar


Houve um tempo em que você sabia o significado da palavra amor. Bastava olhar nos meus olhos. Hoje, vira as sílabas pelo avesso, estuda a semântica, analisa dados, mas continua sem entendê-lo.  Perdeu o hábito de ser feliz!

Faz parte do processo evolutivo do ser humano estudar a linguagem das palavras e buscar a sua significação. Mas, o essencial, aquilo que tem importância, não está na escrita e sim, no silêncio – aquele que fala através do olhar - embora poucos o compreendam ou lhe deem atenção.

Não importa o que eu diga ou escreva. Não se prenda a dados!  Não me leve tão a sério! Estou apenas exercitando a minha liberdade de criar, de brincar com as palavras. Esteja atento, sim, ao que dizem os meus olhos, pois eles traduzem aquela nudez que eu não desejo expor, mas que escapa derramando a memória dos desejos que deixei guardados nas gavetas da minha alma.

Por isso, não desvie os seus olhos dos meus...  Essa é a única maneira de você entender o significado da palavra amor.  Quanto às palavras, esqueça-as! Elas não guardam saudades, tampouco desejos.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Uma Carta para Minha Filha


Outro dia, enquanto conversávamos, a minha filha quis saber sobre o valor das coisas. Não no seu sentido material, mas sobre o grau de importância que determinados fatos têm e como eles afetam o nosso processo de formação e influenciam na maneira como enxergamos à vida. Por isso, resolvi escrever-lhe esta carta.

Minha filha,

A minha infância transcorreu sem maiores problemas, porque tive a sorte de ser filha de pais que tinham excelentes condições financeiras. Porém, nela não havia espaço para brinquedos, festas de aniversário, nem contos de fadas. Para eles, apenas estudo e boa alimentação eram prioridades...

Morei numa rua em que todas as meninas da minha idade eram filhas únicas e mimadas. Nada lhes era negado... Os meus olhos de menina, daquela época, viam desfilar diante de si todas as bonecas e brinquedos que eram lançados no mercado e que depois iam enfeitar as prateleiras dos quartos cor-de-rosa que tanto encantaram a minha infância.

Festas de aniversário! Essas eram temáticas, cada uma mais bonita que as outras. E, para colorir e embelezar ainda mais esse mundo infantil, das minhas amigas, histórias de contos de fadas lhes antecipavam uma boa noite de sono e sonhos.

Eu, porém, cresci com poucos brinquedos e esses, comprei-os na feira: panelinhas de barro para brincar de cozido, bonecas de pano (que chamávamos de bruxas de pano) e outras que eu recortava das revistas de papelão. Lembro-me, também, de um bambolê que ganhei de uma tia.

Festa de aniversário!? - Nunca comemorei! E as histórias de contos de fadas eu mesma lia para mim, surgindo daí o meu gosto pela leitura, que teve seu início com as revistas Lulu e Bolinha.

Porém, numa certa noite de natal, quando a minha espera pelo brinquedo desejado, já cansara de esperar, eis que surge, junto aos meus sapatinhos, a boneca mais linda que alguém já pôde ganhar. Não tinha cabelos, nem roupas, apenas uma fraudinha, uma mamadeira e um urinol. Se eu fechar os olhos, agora, mesmo já tendo transcorrido tanto tempo, consigo reviver a cena com a mesma emoção e alegria... Inesquecível!  Aquele presente ficou feito tatuagem em meu coração e na minha memória.

E, sabe por que eu lhe conto tudo isso nessa carta? - É para responder a sua pergunta sobre o valor das coisas.

- Quando você e seus irmãos nasceram eu proporcionei-lhes tudo o que o dinheiro podia comprar, entre brinquedos, festas e outros bens materiais.  Queria dar a vocês o que nunca tive... Um dia, chamei cada um, em separado, e perguntei-lhe qual o brinquedo que mais o havia marcado ou que lhe trouxera maior alegria. Todos deram a mesma resposta: - mainha, foram tantos que eu nem lembro mais...

Então, nessa hora, a vida me ensinou o real valor das coisas...  Quando nos faltam, valorizamos! Quando temos em abundância nem a memória nos ajuda. E, isso serve também, para medir a importância das pessoas em nossas vidas, pois muitas delas viram móveis e utensílios ou um adorno a mais a enfeitar as prateleiras da nossa existência.




sábado, 22 de outubro de 2011

Entre Números e Sonhos



Há um tempo que passa e, esse conta-se em números – é a juventude do corpo, que tem pressa porque vive aprisionado na ilusão dos dias...  Há outro que também passa, mas esse conta-se em sonhos - é a maturidade da alma!  É quando a bênção da idade madura põe fim à ansiedade, à urgência e nos liberta da censura e da escravidão dos números, fazendo-nos menos exigentes, mais reflexivos, pacientes,  sábios e sonhadores.

Hoje, enquanto a passagem dos anos faz marcas em meu corpo e acrescenta-lhe um algarismo, desejo, razão e sensibilidade juntam-se harmoniosamente, para que a minha alma engatinhe no mundo livre dos sonhos.  Nessa hora, eu faço um brinde à sua independência e  vontade de ser feliz: sem amarras!

O meu olhar, a partir desse momento, passeia pelos dias absorvendo tudo ao redor. Nada escapa a minha retina... O brilho das estrelas não é apenas luminosidade, é festa para os meus olhos e o clic da máquina fotográfica não capta apenas o instante, ele registra a eternidade para a qual eu estou prestes a dar as minhas despedidas.  Então, tudo passa a ter um sentido e um peso diferente.  Aí, eu penso na minha juventude e relembro.

- No meu passado, tudo era motivo de frustração: fiquei infeliz porque perdi uma viagem, um emprego, um “grande amor”; fiquei triste porque rompi com o meu melhor amigo, mudei de endereço, de planos; e, entre outras coisas, fiquei depressivo porque não suportei o peso do adeus definitivo, o ser diferente e não saber partilhar a minha solidão. Orgulho, vaidade, soberba e poder foram heranças da minha juventude. E, agora, razão e sensibilidade são testemunhas da minha melhor idade.

Pouco importa, atualmente, se o vizinho tem uma casa, um carro ou um emprego melhor que o meu. Se a fibra do meu cabelo, a cor da minha pele ou a minha orientação sexual fizer a festa para os desocupados de plantão. Nem se deixo de sair nas colunas dos dez mais – ricos e famosos – tampouco se o meu português ruim impedir-me de sentar à mesa do chá das cinco...

Rótulos e etiquetas!?  Estou dispensando, hoje, em nome da liberdade de ser feliz comigo mesma, pois tenho, dentro dessa alma que engatinha, – apesar dos anos - um manancial de amor, ternura e carinho que não envelhecem, nem se contam pelo uso.

Por isso, enquanto a minha alma caminha por entre números, eu festejo a sua maturidade brindando à vida, aos sonhos, ao fim das urgências e ao tempo que passa trazendo leveza, quietude, mansidão e sabedoria.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O Que Aprendi Sobre o Amor


Na minha pressa em conhecer o amor, fiz um rascunho, um esboço, um desenho mal-acabado sobre ele e te inventei... Depois, saí de mim para buscar abrigo em ti. Que pena! Estavas vazio. Então eu aprendi...

Aprendi que a eternidade cabe ali, justinha, dentro do meu amor, pois gosto do para sempre, do cotidiano, de suas certezas e de saber onde me encontrar, quando estou fora de mim...

Aprendi que quando eu estou fora de mim é porque fiz morada dentro de ti. Sou a noite que abraça o dia e a alma que  incendeia ...  O amor que eu aprendi pressupõe convicção, estabilidade e segurança. Fora da materialidade! Nele, eu adormeço e acordo todos os dias, como no útero materno, e dele, tiro o meu sustento!

Aprendi que ele prolonga o meu sorriso para acolher a tua alegria, empresta a minha memória para os teus esquecimentos,  faz minhas as tuas saudades e, com elas, cria uma colcha de retalhos para agasalhar os teus sonhos.

Aprendi, ainda, que é no meu corpo que ele procura abrigo para a tua ânsia de eternidade e, um lugar de acolhimento, onde a  tua alma reconhece a minha...  Aprendi, também, que quando estamos absolutamente entregues, numa relação, longe é uma distância que não existe, nem se ressente, nem se inquieta com ausências, pois amar é ir além da paixão e do prazer!

Por último, aprendi que amar é atravessar o momento da nudez. É quando a minha alma incendeia a tua...  








domingo, 18 de setembro de 2011


Fidelidade em Novos Tempos



O amor que é tecido em fios de esperança, na maioria das vezes, debruça-se sobre as horas e perde-se no tempo, desarrumando afetos. Esmaecem-se as fotografias!  Por isso, não quero mais gastar palavras, nem tintas, para acariciar egos... Cansei!

É fácil escrever sobre ti, meu amor!  Basta lembrar as dores e os sofrimentos... Difícil mesmo é desenhar teus traços com o pincel da saudade. Sobra tinta!  Pois, enquanto eu te esperava e vestia-me de sonhos, o tempo encarregava-se de delir a pintura do  porta-retrato.

Ele, esse teu amigo frívolo e fugaz, cobrou de mim o que deverias ter, também, para oferecer-me: fidelidade! O “que seja eterno enquanto dure”, do Vinícius, colocou cercas ao meu redor, mas te libertou para o “posto que é chama” e, ficamos assim: para ti, os direitos do mundo machista; para mim, os deveres da lealdade...

Se somos feitos da mesma matéria, por que tu podes e eu, não!? Se tudo é temporário, eu também posso ser!  Não há garantias de fidelidade em uma relação que não quer compromissos e espalha suas chamas, feito uma língua de fogo, destruindo a esperança de quem acreditou que o eterno seria para os dois...

Pois bem, se não queres cobranças, nem que te coloquem expectativas sobre os ombros, fazes o mesmo em relação a mim, porque, afinal de contas, vivemos uma nova época...

E, em sendo dessa maneira, ficamos assim: ninguém é de ninguém, posto que é chama, mas que seja eterno enquanto dure, para os dois! Pois, isto é uma questão de respeito e de direito.

domingo, 11 de setembro de 2011

Carta a um Amor Desconhecido


A ti que habitas o imaginário das minhas fantasias...

Coloquei os meus sonhos na gaveta da memória, certa de que, em algum momento, eles teriam serventia, mas foi tudo em vão... Entardeci, enquanto esperava, pois a natureza efêmera dos teus desejos sequestrou as minhas ilusões deixando-me, somente, lembranças e um rasto de perfume que eu gastei e, ainda hoje gasto, colecionando saudades.

Em que caminho eu te perdi, ó meu amor desconhecido, fruto das minhas quimeras!? Procuro-te, agora, nas veredas dos meus sonhos e não te encontro mais. Então, como em um quadro feito de mosaico vou colocando peça por peça, reconstruindo a imagem que fiz de ti, até conseguir definir o contorno do teu rosto. Nesse instante, dou-te as feições do meu querer e, quero-te tanto, que me esqueço... Mas, logo penso: já cumpri o rito de passagem na estrada das ilusões quando saciei a minha fome de infinito e alimentei esse amor por tantos anos. Agora, quero viver um dia de cada vez, sem memórias e sem sonhos.

Quero embebedar-me de palavras vivas... Sentir o gosto da vida a descer pela minha garganta; provocando-me, inebriando-me e trazendo-me o sorriso aberto das coisas recém-descobertas.

Não te quero mais, ó meu amor desconhecido! Foste chama a queimar os melhores anos da minha vida... Houve dias em que deixei o meu coração vaguear por aí preenchendo as minhas horas com uma saudade doída de ti.  Encharquei a minha alma de lembranças e de saudades, calei a minha fome de palavras e tudo o que me restou foi a tua ausência...

Não te quero mais, ó meu amor desconhecido!

sábado, 3 de setembro de 2011

Nua! Sem Medo de Amar


Perguntaste-me outro dia: - Quem é você?

Respondi: - Se queres saber quem eu sou, despe-me e olha profundamente para o meu avesso. Essa sou eu. Nua! Sem medo de amar...

Não irás me encontrar na superfície ou borda, pois na aparência sou igual a todo mundo quando tento disfarçar o medo, a insegurança, o orgulho, a vaidade e, também, o meu amor. Procura-me ali, naquele cantinho escuro, porque perdida entre sombras e lembranças que se movem dentro de mim; encontrarás ternura, carinho, paixão, arrebatamento e paz. Essa sou eu. Nua! Sem medo de amar...

Perguntaste-me se eu ainda te amo. Respondi: - Voltarei a te amar quando me quiseres despida, transparente, diáfana, porque só assim posso ser tua... Sendo eu!  Não me peças para querer-te quando me obrigas a esconder o meu avesso no labirinto das aparências, pois a única forma de me sentir viva e inteira é na liberdade de ser quem sou... Nua! Sem medo de amar...

Não satisfeito com as respostas, perguntaste-me o que realmente querias saber: - Ainda és minha?

Então, pensei, pensei e respondi: - Não, não sou... Tua!?  Não!
Pois quero-te também inteiro. Sem manhas nem artimanhas. Livre das aparências... Nu! Sem medo de amar...

Quero o teu avesso!

sábado, 27 de agosto de 2011

O Outro e Você


“Somos todos filhos do tempo e ele está nos devorando diariamente, desde o momento em que nascemos”.

Por que será, então, que vivemos ou projetamos a vida sempre no futuro?

A resposta, talvez esteja no fato de que ao levá-la para o porvir, nos sentimos confortáveis em retardar o exercício do amor e do cuidado. O olhar para o outro, seja ele pai, mãe, filho, irmão, parente, amigo ou amante, é de eternidade. Pensamos que todos estarão lá, ao alcance de nossas mãos, na hora e na data marcadas pelo relógio da nossa conveniência, ou seja, no nosso tempo! No tempo do nosso egoísmo e descaso, da nossa arrogância e desamor, do orgulho e da vaidade que sempre ditam as normas, quando o assunto é cuidar do bem-estar do próximo.

Betinho, irmão do Henfil, sabiamente nos advertiu: “quem tem fome - seja do que for - tem pressa”. Não existe amanhã para quem tem os olhos da memória voltados para o terreno infértil das ações e atitudes que nunca saem do papel ou do mundo das ideias.

Tempo! Palavra que, hoje, habita o terreno da escassez de afetos, de carinho, de respeito e de consideração. Estamos todos desaprendendo que “somos tão menos, um sem o outro” e, que, nada é permanente a não ser o passar das horas.

Precisamos desacelerar o passo em direção ao futuro para vivenciarmos a liturgia dos afetos e o exercício do amor; esse amor que pacifica os nossos dias e nos alerta que a eternidade é, tão somente, um jeito frio de prolongar o desamor, a fome, a miséria e, também, uma maneira simples de dizer: eu não me importo!

E, se no lugar do outro fosse você?  O que faria?

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Carta para Rolando



Rolando,


A escritora Hilda Lucas nos diz, em uma de suas entrevistas, por ocasião do lançamento do livro, “Memórias Líquidas”, que: “a única maneira de alguém que perdeu um ente querido superar a dor é abraçar a vida com unhas e dentes, enfrentar a morte, olhá-la nos olhos, perder o medo de viver/morrer e ousar ser feliz de novo; senão, você reduz a morte daquela pessoa ao único acontecimento importante da vida dela. E quem viveu o suficiente para deixar dor, saudade e boas lembranças fez muito mais em vida do que apenas morrer”.


E, é por isso que, hoje, estamos reunidos aqui na Tertúlia Virtual. Vamos deixar de lado essa dor que não tem nome e sentarmo-nos à beira da fogueira, para juntos nos debruçar sobre as lembranças e, com elas, marcar a tua presença em nossas vidas, com alegria e saudade.


A morte é somente uma passagem para quem sabe semear afetos e construir ternuras, pois, daqui a algum tempo, poderemos até esquecer o teu rosto, mas ao tentar esculpi-lo, teremos no celeiro das recordações, a fonte perene que nos impede de esquecê-lo.


A fogueira que acendeste lá no “Entremares” é a mesma do Léo Buscaglia, do livro Vivendo, Amando e Aprendendo. Ali, ele nos diz que se não te importas com alguém, não perguntes como ele vai, mas se tens interesse, realmente, em saber como está essa pessoa, então senta-te e acende uma fogueira, pois na simbologia do teu gesto está a dimensão do teu amor e do teu cuidado para com o outro. E, foi isso que fizeste durante todo esse tempo, acendeste uma para nos aquecer, oferecendo-nos o melhor de ti...


Pois bem, meu amigo, embora sejamos, agora, tão menos sem ti, nos comprometemos a alimentá-la, para que nunca falte o calor da amizade, do carinho e da solidariedade, essa tríade tão necessária para que prossigamos com a nossa jornada nesse planeta Terra. Por ora, ainda dói muito a tua ausência, mas estamos pedindo ao tempo que passe célere, a fim de que essa dor se transforme numa saudade que, com toda certeza, vamos sempre gostar de ter.


Parte em paz! Pois daqui estaremos a brindar, sempre, e ao redor da fogueira, para lembrar de ti com alegria e saudades.
TIM, TIM.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O Real Valor das Letras

Ah, as palavras! Como elas se exibem! Chegam saltitantes, vaidosas e orgulhosas em seus vestidos de cetim desejando o brilho das estrelas. Vaidade. Tudo é vaidade!

(...)

Então, eu lhes falo do tempo, do passado, das coisas idas e findas. Nada mudou, apenas a arte de dizer a mesma coisa com outra linguagem. Tudo se repete, gerando cansaço, frustração e apatia.

Somos todos iguais nessa busca pelo celeiro dos signos lingüísticos,  ansiosos em dar vida às letras. Palavras são gastas, frases e orações desperdiçadas esperando por ações que nunca chegam.

É a cupidez do homem enterrando as palavras, que nada mais anseiam senão a própria vida: prática, ação e exercício contínuos. Nunca, letra morta, vazia, inútil e sempre em busca dos louros das academias.

Validá-las! Esta, talvez, seja a maior honraria que elas desejem. Sair do papel e alcançar às ruas, ruelas, becos e avenidas... Fazer-se luz na escuridão e o pão de cada dia na boca do analfabeto, dando-lhe a consciência de cidadão para que ele possa escrever a história e reinventar a vida desse país.

terça-feira, 26 de julho de 2011

A Resposta


Na quietude da varanda e, ainda, desembrulhando lembranças, ela esperava. Sabia que não devia, mas esperava... Longos dias se passaram. O relógio seguia arrastando os ponteiros, indiferente.

Havia prometido a si mesma não mais falar do passado, por isso não se atrevia a escrever sobre o sofrimento que lhe corroia a alma. A partir daquele momento em que escrevera a penúltima carta de amor, resolveu que traçaria a sua tristeza no silêncio e, em silêncio. Mas, esperava... O dicionário dos afetos que descobriram juntos, decerto, haveria de servir, também, para refrescar-lhe a mente, obrigando-o a remexer nas gavetas da sua memória.

Pensando nisso, não viu o tempo correndo lá fora. Ele contava ali dentro, no terreno da esperança e, sempre, devagar, quase parando, em conta-gotas que era para não destruir tão cedo as suas ilusões.

Trinta e sete anos se passaram, desde então e, só agora ela tomou coragem para perguntar-lhe: por quê?

- Por que ressuscitou da sua laje fria e remexeu no cadáver insepulto de um amor esquecido no tempo? Que prazer haveria de obter, ainda, para sua vaidade, saber-se amado apesar de...

É, meu amigo, você não respondeu e jamais responderá nem a penúltima, tampouco a última carta de amor.  Faz parte do seu show! É o pedaço desse latifúndio a que você dá o nome de vida...  Improdutiva, com certeza! Pois de afetos não cultivados pelo respeito e pela gratidão de se saber amado apesar de...

Um silêncio que fala foi a sua resposta. A última pá de cal sobre um amor que venceu o tempo, mas foi vencido pela insensibilidade de quem, da vida, só deseja o farfalhar dos ventos nas saias rodadas dos amores vãos.

Em todo caso, eu peço emprestada, novamente, as palavras de Carpinejar e termino dizendo: Não irei me vingar com as cinzas, arrancar as folhas que não combinam comigo, ou que me provocaram decepções. Não serei visto queimando fotografias, cartas e paixões numa lata de lixo, apenas porque não me servem mais. O que namorei vai me enamorar a vida inteira. Estará lá numa página definida, permanente, com a letra segurando as linhas”.

Todos os meus erros são esperançosos pela releitura”.